sábado, 22 de maio de 2010

Nós,eles e o futebol


Nós, eles e o futebol
No dia em que a seleção joga, fica claro o abismo entre homens e mulheres. Muito mais do que em qualquer discussão sobre o feminino e o masculino. No mês que vem, assim que começar a Copa, o mundo vai se dividir: de um lado os homens; do outro, nós. Enquanto eles ficam grudados na TV, nenhuma atividade consegue fazer com que uma mulher se desligue totalmente. Quando amamenta seu filho, talvez. Mas mesmo nessa hora é capaz de olhar para a mão e lembrar que precisa ir à manicure ou que a geladeira está vazia.
Não há nada, nada que consiga fazer uma mulher seconcentrar numa única coisa. Se está com os filhos, está pensando no homem; se está com o homem, está pensando nos filhos – e sempre com culpa, é claro. Quando anda ocupada na cozinha, preferia estar fazendo depilação; se fica em casa, costuma ter acessos de nostalgia relembrando os bons tempos em que, àquela hora, poderia estar tomando um dry martini num banco de bar, com as pernas cruzadas e um salto bem alto. Talvez isso aconteça porque a imaginação femininaé mais rica e mais fértil do que a de qualquer homem. Asmulheres são inquietas e ardentes; não conseguiriam jamais ficar durante 90 minutos vendo 22 marmanjos correndo atrás de uma bola. Consequentemente, não podem compreender como alguém consegue ficar paralisado diante de uma televisão. Durante a próxima Copa, todas essas diferenças se tornarão evidentes – bastará olhar para entender tudo.
Serão dois mundos, como, aliás, sempre foram, e você não vai reconhecer o seu amado, de quem já ouviu tantas juras de amor, esparramado com os pés em cima da mesa, bem largado, com uma cerveja na mão e os olhos na tela. Para ele nada vai existir, a não ser o jogo, e, se houver um plantão informando que o mundo está acabando, ele não vai nem ouvir. Ficará na dele, como só os homens são capazes de ficar. Não adianta caprichar no almocinho para ele e seus amigos; adeus namorados, adeus maridos.
Se o telefone tocar e for da casa da mãe, urgente, ele será capaz de dizer, tranquilamente, sem nem se mexer: “Pede para ligar mais tarde”. Não vai passar pela cabeça dele, nem por um instante, que ela possa ter tido um infarto – não antes de a partida terminar. E, se for um telefonema do escritório, perguntará: “Será que não dá pra gente conversar depois do jogo?” Ah, esses homens. Se você quiser fazer um teste, passe entre ele e a TV para ouvir o que vai dizer. No mínimo um: “Amor, assim não dá; vê se libera aí que o Adriano vai bater a falta”. É, machão é assim. E se você, de shortinho, sentar no colo dele, bem provocante, vai ouvir um: Depois, amor, depois”, sem que ele tire o olho do gramado nem por um segundo. É, homem é assim. Apesar disso, ainda há quem ache possível existir solução para o problema homem/mulher. Solução não existe, mas, já que a Copa está chegando, seria bom pedir para seu irmão – ou o porteiro do prédio – explicar o que é o tal do impedimento. Tudo pelo amor.
Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)Foto Eduardo Pozella

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